CARTOLA – O DIVINO MESTRE

Nascido no Rio de Janeiro, aos 11 de outubro de 1908, Angenor de Oliveira é considerado por diversos músicos e críticos como o maior sambista da história. Antes de fazer música trabalhou com tipografia e foi pedreiro, de onde veio seu apelido, pois usava sempre um chapéu coco (o qual chamavam de cartola) para impedir que o cimento lhe sujasse a cabeça.

Fundou em 28 de abril de 1928, junto com Carlos Cachaça e outros companheiros, o G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, que teve o nome e as cores verde e rosa escolhidos por ele. Seus sambas se popularizaram na década de 1930, por meio de vozes ilustres como Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e Silvio Caldas.

Em 1940, foi convidado pelo maestro e compositor Heitor Villa-Lobos a formar um grupo de sambistas (com Donga, Pixinguinha e João da Baiana) e gravar com outro maestro mundialmente famoso, o norte-americano Leopold Stokowski, a bordo do navio Uruguai. Dos sambas que Cartola gravou, Quem Me Vê Sorrindo saiu em um dos quatro discos de 78 rpm lançados apenas nos Estados Unidos. Além da sua primeira gravação, foram registradas nesse álbum a flauta de Pixinguinha e as emboladas caipiras de Jararaca e Ratinho (Jararaca é autor de Mamãe Eu Quero, sucesso mundial na voz de Carmen Miranda).


Cartola também foi cantor de rádio, apresentando músicas suas e de outros compositores. Criou com Paulo da Portela o programa A Voz do Morro, na Rádio Cruzeiro do Sul, no qual apresentavam sambas inéditos cujos títulos deviam ser dados pelos ouvintes.

Depois de ficar doente e perder a companheira Deolinda, o sambista desapareceu do ambiente musical. Muitos chegaram a pensar que ele tivesse morrido. Escravo da bebida durante anos, foi acometido de uma rosácea, que atingiu seu rosto, provocando infecções e deixando o nariz feito uma couve-flor (ele ganhou uma cirurgia de correção do maior cirurgião plástico do mundo, o mineiro Ivo Pitanguy). Eusébia Silva do Nascimento (Zica), que conhecia desde criança, passou, então, a cuidar dele. E resgatou-o para a vida.

Cartola só foi redescoberto em 1956, quando o cronista Sérgio Porto (também conhecido como Stanislaw Ponte Preta) o encontrou lavando carros em Ipanema e trabalhando como vigia. Porto levou-o para se apresentar na Rádio Mayrink Veiga e viabilizou outros trabalhos para ele. Em 1964, o compositor abriu com Dona Zica o restaurante Zicartola, que tinha a presença constante de alguns dos melhores representantes do samba de morro e era frequentado também por jovens da geração Bossa Nova.

Em 1965, foi lançado um álbum do show Opinião, realizado por Zé Keti, João do Vale e Nara Leão – que incluiu O Sol Nascerá, de sua autoria, no repertório. A gravação tornou Cartola, assim como outros sambistas de seu círculo, conhecidos pelo público de classe média, projetando-os profissionalmente.

Em 1970, o músico protagonizou uma série de apresentações promovidas pela União Nacional dos Estudantes (UNE), intituladas Cartola Convida, onde recebia grandes nomes do samba. Também naquele ano, a Abril Cultural lançou um volume dedicado à sua obra na série História da Música Popular Brasileira.

A consagração definitiva viria em 1974, quando finalmente gravou seu primeiro disco solo. Se o público teve que esperar 66 anos pelo lançamento do seu primeiro álbum, ele foi recompensado com um dos grandes discos da história da MPB. Com letras que tocam a alma das pessoas de todas as classes, as 12 faixas de Cartola formam uma antologia da nossa música. Do samba-choro Disfarça e Chora até a descontração de Alegria, o disco passeia por canções como Corra e Olhe o Céu, a ressentida Tive sim, a emblemática Alvorada (“Alvorada lá no morro, que beleza / Ninguém chora, não há tristeza / Ninguém sente dissabor”), a saudosista Amor Proibido e, principalmente, O Sol Nascerá.

Em 1976, saiu seu segundo LP, também intitulado Cartola. O sucesso do álbum foi puxado por uma de suas mais famosas criações, As Rosas não Falam e, no ano seguinte, Beth Carvalho gravou o sucesso O Mundo é um Moinho. A gravadora RCA lançou Verde que te Quero Rosa, seu terceiro disco solo, com igual sucesso.


Em 1979, foi lançado Cartola – 70 anos, seu quarto LP. Participou de um programa na Rádio Eldorado, em São Paulo, no qual contou um pouco de sua vida e cantou músicas que andava fazendo. Essa entrevista foi posteriormente lançada em LP, na década de 1980, com o nome Cartola – Documento Inédito.

Mas sua carreira não iria muito longe, pois fora diagnosticado com um câncer na tireoide, que manteve em segredo. Três dias antes de morrer, recebeu do poeta Carlos Drummond de Andrade sua última homenagem em vida, e nos deixou em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos de idade. Em sua despedida, As Rosas não Falam foi cantada por uma pequena multidão de sambistas, amigos, políticos e intelectuais.

Nos anos seguintes seguiu-se uma infinidade de homenagens e regravações de sua obra por artistas de várias vertentes. Três biografias podem ser destacadas: Cartola, Todo Tempo que Eu Viver (de Roberto Moura), Cartola, os Tempos Idos (de Marília T. Barbosa e Arthur Oliveira Filho) e Divino Cartola – Uma Vida em Verde e Rosa (de Denilson Monteiro). Em 2007, foi lançado o filme Cartola – Música Para os Olhos, com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda.

O rapper norte-americano Curren$y usou uma foto de Cartola na capa de seu álbum de 2011, Verde Terrace. A imagem é a mesma usada na capa de Verde que te Quero Rosa, lançado em 1977.

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