Chico Buarque
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Francisco Buarque de Hollanda (Rio de Janeiro, 19 de junho de 1944) é músico, dramaturgo e escritor. Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda e de Maria Amélia Cesário Alvim, escreveu seu primeiro conto aos 18 anos. Sua discografia conta com aproximadamente 80 álbuns, entre eles discos-solo, em parceria com outros músicos e compactos.
Em 1953, Sérgio Buarque de Hollanda – pai do cantor e primo do dicionarista Aurélio Buarque de Holanda – foi convidado para lecionar na Universidade de Roma e levou toda a família. Chico regressou ao Brasil em 1960 e cursou Arquitetura e Urbanismo na USP por dois anos, até abandonar a escola para se dedicar à carreira artística. Lançou um compacto com Sonho de Carnaval e Pedro Pedreiro, que definiria seu modo de trabalhar os versos.
Conheceu Elis Regina – vencedora do Festival de Música Popular Brasileira em 1965 –, na esperança de que ela gravasse algumas de suas músicas, mas, impaciente com a timidez do compositor, a cantora não lhe deu muita bola. Chico revelou-se ao público quando ganhou o mesmo festival, no ano seguinte, com A Banda, interpretada por Nara Leão (empatou em primeiro lugar com Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros). A música mereceu uma crônica do poeta Carlos Drummond de Andrade e foi traduzida para vários idiomas (integra, por exemplo, o repertório da Band of Irish Guards, uma das corporações musicais que se apresentam no Palácio de Buckingham, na Inglaterra).
Chico casou-se em 1966 com a atriz Marieta Severo, com quem teve três filhas, Sílvia, Helena e Luísa, e de quem se separou em 1999. É irmão das cantoras Miúcha (ex-esposa de João Gilberto, com quem teve Bebel Gilberto), Ana de Hollanda e Cristina. No festival de 1967, concorreu com a música Roda Viva, interpretada por ele e pelo grupo MPB-4 – amigos e intérpretes de muitas de suas canções.
Em 1968, venceu o III Festival Internacional da Canção da TV Globo, em parceira com Tom Jobim, com a canção Sabiá, executada sob sonora vaia – a preferida do público era Pra Não Dizer que Não Falei das Fores, um protesto contra a ditadura militar, de autoria de Vandré. Roda Viva virou peça de teatro sob a direção de José Celso Martinez Corrêa – numa das apresentações, um grupo de mais de 100 pessoas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu o Teatro Galpão, em São Paulo, espancou artistas e depredou o cenário.
Na mesma época, Chico participou, no Rio de Janeiro, da Passeata dos Cem Mil, que reuniu estudantes, artistas e intelectuais em um protesto contra o regime. A imprensa explorou o confronto de ideias entre ele e os tropicalistas, cuja linguagem musical propunha um rompimento estético com o belo. Para Caetano Veloso, Chico continuava fazendo “só o que era bonito, enquanto nós queríamos também uma coisa que fosse, de algum modo, feia”.
Ameaçado pelo regime militar, Chico se exilou na Itália em 1969, onde fez espetáculos com Toquinho e gravou dois álbuns em italiano, dividindo as versões com o letrista Sergio Bardotti com arranjos de Ennio Morricone – famoso por suas trilhas sonoras no cinema.
Na sua volta ao Brasil, em 1970, teve suas canções Apesar de Você e Cálice proibidas pela censura, quando então adotou o pseudônimo Julinho da Adelaide para conseguir gravar – “Parece nome de sambista, então não deve ter problema”, imaginou, acertadamente, na época. Em 1971, compôs Construção, que foi eleita pela revista Rolling Stone/Brasil a melhor canção brasileira de todos os tempos. Ainda que estas enquetes sirvam só como passatempo para curiosos, houve o reconhecimento público da grandeza da obra do compositor.
Chico atuou e compôs vários temas para o cinema, presentes em Quando o Carnaval Chegar e Joanna Francesa, ambos dirigidos por Cacá Diegues; Vai Trabalhar Vagabundo, de Hugo Carvana; Os Saltimbancos Trapalhões, de J. B. Tanko; e O que Será?, para o filme Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto.
Em 1976, lançou o disco Meus Caros Amigos, que trouxe parcerias com Ruy Guerra, Augusto Boal e Francis Hime. Três anos depois, gravou o premiado álbum Ópera do Malandro, trilha sonora da peça homônima inspirada na Ópera dos Mendigos, de John Gay, e na Ópera dos Três Vinténs, de Bertolt Brecht e Kurt Weill.
Durante a década de 1970 (e o começo da de 1980) músicas suas constavam das trilhas de várias telenovelas e Chico chegou a apresentar um programa de TV com Caetano Veloso (Chico & Caetano), para o qual convidaram alguns dos maiores artistas brasileiros. Em parceria com Edu Lobo, compôs as canções para o balé O Grande Circo Místico, que seria lançado em disco em 1982.
Além dos livros A Bordo do Rui Barbosa, Estorvo, Benjamim, Budapeste, Leite Derramado e O irmão Alemão, Chico escreveu e musicou peças de teatro para crianças.
A mulher foi uma constante nas obras do compositor, não só como amante, mas como personagem revolucionária ou trágica, a mulher resignada, a mulher que se transforma, a mulher independente e a mulher mãe. Compôs temas a partir do ponto de vista do universo feminino gravados por Nara Leão, Maria Bethânia, Elis Regina, Gal Costa, Simone, Marieta Severo e Elba Ramalho.
Militante de esquerda, nos últimos anos Chico tem enfrentado problemas em razão de suas posições políticas, aos quais tem reagido com a polidez e a inteligência que são características de sua personalidade.
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