CONTÉM: Lady Gaga e sua carreira meteórica
Com o triste anúncio do cancelamento do show de Lady Gaga no Rock In Rio, a cantora entrou na mira da mídia. É importante lembrar da humanidade dos artistas, que são pessoas como qualquer outras, com uma vida, uma história.
Pensando nisso, o nosso texto de estreia da “Contém”, uma coluna sobre cultura pop CONTEMporânea, vamos conversar um pouquinho sobre Lady Gaga e sua carreira meteórica.
LADY GAGA
Uma artista de verdade tem o poder de transformar o mundo. É capaz de mudar vidas, construir novas formas de pensar, criar comunidades de fãs. Todo um novo universo surge com uma superestrela como a Gaga. Música, dança, teatro. É tudo tão bem amarrado, ela é o pacote completo. Imagine só, ela é a única artista a se apresentar no Oscar, no Grammy e no Super Bowl no mesmo ano. É um feito e tanto, não?
Mas pense bem, esse poder de afetar a vida das pessoas não é fruto apenas do talento único de Gaga. Uma carreira bem administrada fez toda a diferença durante os 10 anos em que a Mother Monster, como Gaga é chamada pelos fãs, está na lista das maiores artistas contemporâneas.
Stefani Joanne Angelina Germanotta, nome de batismo de Lady Gaga, nasceu em New York. Gaga entrou no universo da arte muito pequena, aos 4 anos já tocava piano e tinha uma bela voz para o canto. Seu sonho era o de ser uma superestrela, ganhando os palcos do mundo com seu jeito extravagante e poético de ser. Ela chegou a cursar teatro musical na Tisch School of Arts, uma das Universidades mais conceituadas de New York, porém decidiu abandonar o curso em seu segundo ano para se dedicar inteiramente à carreira músical.
O que veio a seguir já é de conhecimento de todos. Gaga foi um estouro. Em seu single de estreia, Just Dance, liderou as paradas do mundo, tornando-se um fenômeno, depois tivemos Poker Face, Paparazzi, Love Game. Entretanto, foi apenas em seu maior sucesso, a obra prima Bad Romance, que Lady Gaga finalmente foi entendida como uma das maiores artistas da época. Uma música potente e um vídeo impressionante, ela era capaz fazer tudo o que propunha de forma bem executada e interessante.
Seu disco de estreia, The Fame e o relançamento com novas músicas, The Fame Monster, venderam mais de dezesseis milhões de cópias em todo o mundo. Sua fanbase, os Littles Monster, tornaram-se fieis seguidores e apoiadores da cantora como uma legião, de uma forma pouco vista até então. Foi então que Gaga se preparou para o lançamento do terceiro disco: Born This Way.
Nem tudo foram flores na carreira de Gaga. Sua equipe de marketing, sempre procurando formas de tornar suas aparições algo dramático e memorável, acabou deixando a imagem da cantora saturada. Embora tudo o que fizessem fosse algo sempre cheio de conceito e extremamente inteligente, as pessoas começaram a enjoar de Lady Gaga, ignorando a artista por ser estranha e extravagante demais, o que é paradoxal, visto que essas características foram as responsáveis por seu estrelato.
Sempre imersa em críticas negativas, Gaga se viu em um ambiente hostil, cercada de jornais que diziam “Lady Gaga is over”. No fim, estavam todos errados, pois seu terceiro álbum vendeu mais de doze milhões de cópias e seus singles tiveram mais de um bilhão de visualizações no YouTube. Ela sempre foi muito dedicada em seu trabalho. Ela sabia que não poderia fazer tudo sozinha, então cultivou relacionamentos com outros artistas, estilistas e personalidades criativas que a inspiravam e se dispunham a criar parcerias com ela.
Seu trabalho de marketing sempre foi impecável. Lady Gaga não era mais apenas uma artista, era uma marca. Em menos de cinco anos de carreira, ela já era a garota propaganda de diversas marcas, como Versace, Tom Ford, Polaroid, amiga de Donatella Versace, Riccardo Tisci e Alexander McQueen. Chegou a lançar o seu próprio perfume, que foi premiado e um dos perfumes mais vendidos do mundo.
Sua turnê, a Born This Way Ball Tour, com mais de oitenta shows, foi uma das turnês mais lucrativas de 2012. Mas foi justamente esse o momento em que Gaga viveu os dias mais difíceis de sua vida. Durante a longa e intensa turnê, ela machucou o quadril. A lesão foi grave, obrigando-a a cancelar os shows restantes para que fosse submetida a uma cirurgia e um processo de recuperação longo. Durante quase dois anos, Lady Gaga desapareceu, aparecendo em poucos eventos e sem lançar material novo.
Em 2013, já recuperada, Gaga anunciou seu novo trabalho, Applause, o primeiro single de seu novo disco, Artpop. Durante toda sua carreira, a imagem de Lady Gaga sempre foi super-exposta, aparecendo em programas de televisão com grande frequência, realizando apresentações mirabolantes em premiações musicais e divulgando suas músicas de todas as formas possíveis. Essa exposição desgastou sua imagem, colocando a Gaga, mais uma vez, em um vórtex de críticas negativas.
Seu quarto álbum, Artpop, vendeu pouco mais de dois milhões de cópias, sendo considerado um fracasso de vendas e apontado como fraco pela crítica especializada, que criticava a qualidade duvidosa das músicas. Sendo escorraçada e esquecida pela mídia, mais uma vez, Gaga se afastou dos holofotes e divulgou estar sofrendo de depressão.
As pessoas haviam se cansado de Lady Gaga.
Embora Gaga já tivesse se mostrado extremamente talentosa, as pessoas passaram a acreditar que ela não passava de mais uma artista pop exagerada, que dependia de grandes produções para fazer valer o seu talento. A maior jogada de marketing dela veio nesse momento obscuro. Decidida a limpar sua imagem, Gaga simplesmente desistiu da divulgação do Artpop e decidiu se dedicar às formas de arte que fossem expressas em sua forma mais crua. Tudo o que ela queria fazer era mostrar a sua voz.
Sua redenção teve início em 2014, quase um ano após o lançamento do Artpop, com o lançamento do álbum de jazz colaborativo com Tony Bannett, o Cheek to Cheek. Nele, Gaga mostrou ser ainda mais inteligente musicalmente do que pensavam, revelando seu potencial vocal em regravações poderosas. Nesse momento, ela já não era mais a Lady Gaga esquisita, que se vestia inteira de contra filé, como fez em 2010; seu talento foi reconhecido e sua imagem foi limpa com sucesso.
Seu amadurecimento artístico e o realinhamento das estratégias de marketing permitiram que Gaga ressurgisse como uma fênix. Se o Artpop havia sido completamente ignorado, Cheek to Cheek recebeu um Grammy pela qualidade vocal dos cantores. Retomando aos poucos às aparições frequentes, ela realizava apresentações de jazz ou covers de grandes artistas. Convidada para homenagear grandes nomes da música como Sting e Stevie Wonder, o reconhecimento artístico de Gaga chegou ao seu auge.
Com canções indicadas ao Oscar e ao Emmy, Gaga recebeu até mesmo um Golden Globe por sua atuação como A Condessa, na série American Horror Story. Premiada, e de novo na boca das pessoas, nos anos seguintes a cantora se apresentou duas vezes no Oscar, uma vez no Grammy em conjunto com a banda Metalica e duas vezes no Super Bowl, o maior evento esportivo do mundo.
Completamente restaurada, a imagem de Gaga se consolidou como a de uma artista versátil, que sabe cantar, dançar e atuar. Ela não era mais apenas uma cantora, era uma artista completa, reconhecida como tal. Em 2017, ela lançou seu quinto disco, Joanne, com uma pegada muito mais country e rock, com arranjos simples e uma voz crua que impressionou.
Lady Gaga pode fazer o que quiser. Não precisa mais se provar. Ela já ocupou o seu espaço. Em dez anos de carreira ela passou por muita coisa, se viu destruída, mas soube ser inteligente e usar boas estratégias de marketing para se reerguer.
Aos seus trinta anos e totalmente madura, Gaga promete continuar sendo uma artista ainda completa e original, construindo seu legado no mundo pop e influenciando novos artistas no futuro.
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