Nelson Cavaquinho

Enquanto lê o post de hoje, ouça as músicas de Nelson Cavaquinho, clicando aqui.

Nelson Cavaquinho, nome artístico de Nelson Antônio da Silva – nascido em 29 de outubro de 1911 –, foi um importante sambista carioca, compositor e cavaquinista na juventude; na maturidade optou pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocar, utilizando apenas dois dedos da mão direita.

Seu pai, Brás Antônio da Silva, era músico da banda da Polícia Militar e seu tio Elvino tocava violino. Nelson frequentava as rodas de choro, onde surgiu o apelido que o acompanharia por toda a vida.

Casou-se aos 20 anos com Alice Neves – com quem teria quatro filhos –, quando entrou para a polícia e passou a fazer rondas noturnas a cavalo. Foi assim que passou a frequentar o morro da Mangueira, onde conheceu sambistas como Zé da Zilda, Cartola e Carlos Cachaça.

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Quando estava trabalhando, costumava entrar num bar e por lá ficar bebendo e conversando. Depois de muito esperar, seu cavalo, Vovô, voltava sozinho para o Batalhão; invariavelmente, o soldado era punido, mas não se importava. Ficar detido era comum para ele, pois Nelson passava dias sem ir ao quartel em decorrência da boemia. Sobre este fato comentou: “Eu ia tantas vezes em cana que já estava até me acostumando com o xadrez, era tranquilo, ficava lá compondo; entre as músicas que fiz na reclusão está Entre a Cruz e a Espada. No ano de 1938, conseguiu dar baixa antes de ser expulso da corporação, e, separado da mulher e afastado dos filhos, ingressou de vez na boemia e dedicou-se à música.

Deixou mais de 400 composições – muitos afirmam que fez mais de 600 –, a maioria delas inédita ou esquecida, pois dificilmente o músico as anotava, preferindo guardá-las na memória. Entre elas, clássicos como A Flor e o Espinho e Folhas Secas, ambas a quatro mãos com Guilherme de Brito, seu parceiro mais frequente. Por falta de dinheiro depois de deixar a polícia, Nelson eventualmente vendia parcerias de sambas que compunha sozinho. Um de seus parceiros, Milton Amaral, costumava contar que numa certa madrugada fizeram um samba juntos. Dias depois, quando foi à editora para assinar o contrato, qual não seria sua surpresa ao constatar que era o 16º co-autor: Nelson já havia vendido a mesma música 14 vezes.

Sua primeira canção gravada foi Não Faça Vontade a Ela, em 1939, por Alcides Gerardi. Anos mais tarde foi descoberto por Cyro Monteiro, que gravou várias de suas músicas.

Enquanto Cartola oferecia respostas e conselhos em suas músicas, Nelson notabilizou-se pela melancolia de sua poesia e pela constância da morte em sua temática. “Sou um homem que está muito perto da fatalidade. Minhas músicas, por isso, falam sempre em morte e em Deus, não faltando os amores fracassados.” Isso pode ser comprovado em Rugas, Quando Eu Me Chamar Saudade, Luto, Eu e as Flores e Juízo Final.

Nelson frequentava o Zicartola, misto de restaurante e casa de shows, de Cartola e sua esposa, Dona Zica. O restaurante funcionava como ponto de encontro entre os músicos da cidade e os do morro; corria a segunda fase da bossa-nova, caracterizada pela revalorização do samba tradicional. Nelson, Cartola, Zé Kéti e Elton Medeiros – que estavam esquecidos – tiveram então suas músicas gravadas pela musa do movimento, Nara Leão, em seu primeiro disco, de 1964. De Nelson, o samba escolhido foi Luz Negra e, no ano seguinte, ela gravou Pranto de Poeta.fotos nelson cavaquinho2

No início da década de 1960, conheceu Durvalina, trinta anos mais nova do que ele, com quem viveu até a sua morte. Entre a primeira mulher e a última, Nelson Cavaquinho teve muitos amores. Lígia, grande paixão na vida do sambista, era uma mulher sem teto, que dormia na Praça Tiradentes, e os dois bebiam até acabarem num banco da praça, de porre. O amor chegou a um ponto tal que Nelson tatuou o nome de Lígia em seu ombro direito, motivo de sua canção Tatuagem, que diz: “O meu único fracasso / Está na tatuagem do meu braço”.

Sobre sua forma de levar a vida sempre na boemia, uma passagem foi descrita pelo parceiro Eduardo Gudin, que lembra o dia em que dirigindo o carro ligou o rádio e passou a ouvir uma entrevista do compositor para o programa Balance, da Excelsior. A certa altura, o apresentador perguntou a Nelson quais eram os seus planos. E ele: “Meus planos? O Gudin vai passar aqui pra me pegar e vamos beber no Bar do Alemão.”

Em 1977, gravou com Guilherme de Brito, Candeia e Elton Medeiros o disco Quatro Grandes do Samba, com uma seleção de seus repertórios; o ponto negativo é que não é um álbum duplo, pois é o que o encontro merecia.

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Nelson faleceu em 18 de fevereiro de 1986, vitimado por um enfisema pulmonar. Em uma de suas letras ele diz: “Me dê as flores em vida / O carinho, a mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me chamar saudade / Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais.”

No carnaval de 2011 a escola de samba Estação Primeira de Mangueira homenageou Nelson Cavaquinho pelo seu centenário. O Filho Fiel, Sempre Mangueira foi o nome do enredo que a agremiação levou para a avenida. Entre várias homenagens, houve a exibição do filme Nelson Cavaquinho, do cineasta Leon Hirszman (com uma ótima fotografia), que mostra a vida simples que o compositor levava, apesar da fama.

Com sua voz rouca, deixou registrados muitos sucessos em diversas parcerias. Consagrado como um dos maiores sambistas do Brasil, Nelson foi gravado por diversos cantores – desde Chico Buarque, Paulinho da Viola, João Bosco, Clara Nunes, Beth Carvalho (parceira nas rodas de samba e choro) e Toquinho até Arnaldo Antunes, que recriou Juízo Final em seu disco O Silêncio.





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