O ROCK AND ROLL E A CRIAÇÃO DA JUVENTUDE

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O rock and roll é um estilo musical que surgiu nos Estados Unidos no início dos anos 1950, mas que ganhou o mundo depois de 1954, através das figuras de Bill Haley e Elvis Presley. Suas raízes são caracteristicamente negras e brotaram dos estilos country, blues, rhythm & blues e gospel.

A palavra rock teve uma longa história no idioma inglês como uma metáfora para sacudir, perturbar ou incitar. O termo era usado por cantores gospel negros no sul dos Estados Unidos para expressar algo semelhante ao êxtase espiritual, no entanto, também era usado com duplo sentido referindo-se à dança e ao ato sexual.

Em 1951, em Cleveland, o DJ Alan Freed sacou que o rhythm and blues “dava rock”, e começou a tocá-lo para uma audiência multirracial. Muitos cantores negros como Ray Charles, Fats Domino, Chuck Berry e Little Richard, vieram dessa tradição e faziam músicas que atraíam plateias brancas. Já o rockabilly, geralmente era tocado por cantores brancos como Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis, e agregava influências da música country. A junção dos dois na imagem de um branco explodiu no rádio e na TV.

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Nessa época, as tensões raciais nos Estados Unidos estavam próximas de vir à tona, os negros protestavam contra a segregação nas escolas e nas instalações públicas – como não poder tomar água em bebedouros de brancos e serem obrigados a ceder seus assentos nos ônibus.

Diferente do que ocorreu no jazz, no rock n’ roll – apesar de realidades diferentes – houve uma certa cumplicidade entre a meninada, porque os brancos, escondidos dos pais, passaram a frequentar bailes e shows nos bairros negros, ávidos por conhecer os ritmos, e começaram a pedir instrumentos de presente para praticar aquelas novidades.

Mesmo o preconceito e as barreiras raciais não podiam barrar as forças do mercado, e o rock n’ roll virou sucesso de um dia para outro. Os efeitos sociais foram massivos, influenciando estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. Além disso, acabou ajudando a causa do movimento dos direitos civis por sua característica contestadora, protagonizado por jovens ávidos por mudanças no pós-guerra.

A sociedade vivia num clima de hipocrisia, onde a aparência e o bom comportamento aliados às referências de consumo indicavam como um bom cidadão deveria se portar. Os meninos usavam roupas que seus pais escolhiam; depois dos 14, 15 anos eles começavam a usar calça comprida e, junto a isso, herdavam responsabilidades. Suas vontades e questionamentos inerentes à fase de crescimento não eram levados em conta, eles saltavam etapas de seu desenvolvimento para depois formar uma família – com as meninas era pior ainda, pois elas estariam sujeitas a eles.

Então, criaram seu próprio uniforme: calça jeans (usada por peão), camiseta branca (que todo americano usava debaixo da camisa) e tênis (do uniforme de educação física). As meninas “avançadas” começaram a usar roupas apertadas e calça comprida, além de acompanhar seus namorados em aventuras perigosas, como namorar e disputar rachas nos carros dos pais.

Nos shows e eventos sempre havia escaramuças com a polícia e várias vezes a garotada destruía os teatros e tentavam levar um pedaço do seu ídolo pra casa. Foi aí que começaram a ser taxados de rebeldes sem causa, e o rock n’ roll foi a balada dessa geração.

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No cinema, tiveram exemplos que refletiam seus dramas, principalmente com James Dean (Vidas Amargas, Juventude Transviada, Assim Caminha a Humanidade) e Marlon Brando (O Selvagem e Uma Rua Chamada Pecado). Uma das atrizes que representava esse universo foi Natalie Wood.

As igrejas e disc jockeys conservadores decretaram que o rock era a música do diabo, devido à sua “batida satânica vinda da África”, e várias entidades de cidadãos brancos fizeram campanha nacional contra, por meio de boicote nas rádios e proibição de shows em defesa da juventude e dos valores americanos.

Houve uma verdadeira caça às bruxas, Alan Freed, o DJ que lançou o rock n’ roll no rádio, foi processado por prática de jabá (compensação para promover uma música específica). Elvis foi servir as forças armadas na Alemanha (e voltou fazendo baladas românticas), Jerry Lee Lewis foi banido das rádios por se casar com sua prima de 13 anos (prática comum, principalmente no meio rural).

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Eddie Cochrane morreu em acidente de automóvel, Buddy Holly e Richie Vallens morreram num acidente de avião. Little Richard abandonou a carreira, quando, numa viagem, seu avião sofreu uma pane e ele jurou a Deus nunca mais cantar rock e voltar para o coro da igreja. Chuck Berry foi condenado à prisão por ter contratado uma garota índia, menor de idade, para trabalhar em seu clube noturno.

 Em contrapartida, várias canções desses “depravados” foram regravadas por cantores brancos-bonitinhos-de-voz-suave, num ritmo bem comportado. Houve uma verdadeira proliferação de grupos vocais de todas as cores e gêneros cantando o amor e suas desilusões – muitos eram músicos de grande talento, por sinal. A cada mês surgia um novo tipo de dança para substituir o rock n’ roll; e um irresistível twist invadiu todos os lares do ocidente.

Chuck Berry foi solto em 1963 (depois de quatro anos de cárcere), ironicamente quando seus antigos sucessos renasciam no outro lado do Atlântico, nas vozes e guitarras de uma enevoada Inglaterra. E começaria tudo de novo, com os antigos ídolos resgatados por garotos ingleses – como Beatles e Rolling Stones. Uma geração que abriria um imenso leque para o rock, com assimilação e projeção de diferentes estilos como folk, country, psicodélico, progressivo, hard, soft, heavy, glam, garage, punk e alternativo, principalmente. Misturado a tudo isso, o soul e o funk.



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