Raul Seixas
Enquanto lê o post abaixo, curta alguns sucessos de Raul Seixas clicando aqui.
No dia 7 de junho de 1973, um sujeito magérrimo, de barba e óculos escuros saiu pelas ruas do Rio de Janeiro entoando uma estranha canção canto-falada que começava assim:
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês…
Naqueles anos, qualquer aglomeração era vista com desconfiança, mas o cortejo comandado por Raul e seu parceiro Paulo Coelho – o alquimista – não foi incomodado. Apesar da letra fazer uma demolidora crítica à classe média, a intenção estava longe de ser política. Raul desejava promover aquele que é um clássico do rock brasileiro, o LP Krig-ha, Bandolo!, que marcava sua estréia em carreira-solo. Este álbum foi o primeiro de Raul em parceria com o escritor Paulo Coelho, o disco marcou época e trazia outros clássicos como Mosca na Sopa, Metamorfose Ambulante e Al Capone. Mas o “bum” do disco foi Ouro de Tolo, que tinha uma letra autobiográfica e ao mesmo tempo uma bofetada na face da classe média, que trocava a verdadeira realização pelo acesso às bugigangas comuns de consumo.
O título Krig-ha, Bandolo! faz referência a um grito de guerra do personagem Tarzan, conhecido à época nas revistas em quadrinhos da EBAL, e que significa “Cuidado, aí vem o inimigo”.
Um pouco de história
Raul Santos Seixas (Salvador, 28 de junho de 1945 – São Paulo, 21 de agosto de 1989) foi um cantor e compositor, considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também foi produtor musical da CBS no Rio de Janeiro, e ficou conhecido como “Maluco Beleza”. Sua obra musical é composta por 17 discos e seu estilo mistura rock e baião, e conseguiu unir ambos em músicas como Let me Sing, Let me Sing. Sua estreia no disco, Raulzito e os Panteras,ocorreu no final da Jovem Guarda (1968).
Cético e agnóstico, Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e algumas ideias dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso.
Na juventude, em Salvador/BA nos anos 1950, ele ouvia os discos de Elvis Presley até estragar os sulcos. “O rock era como uma chave que abriria minhas portas que viviam fechadas. As mães não deixavam as filhinhas chegarem perto de mim porque eu era torto como o James Dean. Eu era um fracasso na escola, ela não me dizia nada do que eu queria saber, tudo o que eu sei devo à rua, à vivência.”
O pai (Raul Varella) questionava se ele estava estudando, mas a mãe, Maria Eugênia, interrompia dizendo algo como “Estudou nada, ficou aí ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria desse béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e gritando essas maluquices.” Seu pai amava os livros e possuía uma vasta biblioteca.Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a ler os volumes que encontrava, as histórias fermentavam sua imaginação, e ele fazia desenhos, criava personagens e enredos.
Anos depois, Raul faria vestibular de Direito, só pra agradar a família, ficando entre os primeiros classificados, provaria que aquilo era fácil e, para ele, desnecessário.
Em 1968, é levado para o Rio de Janeiro pelo ídolo da Jovem Guarda, Jerry Adriani. Grava o disco Raulzito e os Panteras (nome de sua banda formada em Salvador), que não chamou a atenção de ninguém. Então, passa a compor sucessos para vários artistas como Trio Ternura, Renato e Seus Blue Caps, Diana, Odair José e o próprio Jerry. Faz parcerias com Leno (da dupla Leno e Lilian) e com Sérgio Sampaio.
Depois de Krig-ha, Bandolo, Raul lança Gita. Com Paulo Coelho cria a Sociedade Alternativa, e dedica-se com afinco aos estudos esotéricos. Chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comunidade onde a lei única era “Faze o que tu queres, há de ser tudo da lei.” A idéia da Sociedade Alternativa não agradou a muitos e Raul foi preso e torturado pelo DOPS, tendo que deixar o país.
Raul, Paulo e suas esposas Edith e Adalgisa partiram para os Estados Unidos, onde fizeram contato com algumas personalidades – disse que esteve com John Lennon e Yoko Ono para falar sobre a Sociedade Alternativa (música que Bruce Springsteen cantou, em português, na turnê brasileira de 2013). Contudo, teve de voltar, pois Gitaestava fazendo um sucesso estrondoso.
Ele conseguiu gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos 1980 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Abre-te Sésamo, Raul Seixas, Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! e A Panela do Diabo (1989), esse último em parceria com o também baiano e amigo Marcelo Nova.
Raul teve uma longa briga com o álcool, que acabou derrubando-o em 1989, devido a uma parada cardíaca provocada pela pancreatite aguda. LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira.
Em 2007, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Discos da Música Brasileira, onde dois de seus álbuns apareceram Krig-ha, Bandolo!atingiu a 12ª posição e Novo Aeon ficou em 53º lugar.
Deixe um comentário