TITÃS
Por: Angelo Campos
O começo dos anos 1980 vivia um momento de expectativas. Em relação à política, estava acontecendo uma distensão, onde o governo ensaiava um princípio de abertura em meio a atentados por parte de militares que não queriam deixar o poder. No âmbito cultural, cada vez mais artistas, produtores, estudantes e jornalistas lutavam pela liberdade de expressão. No panorama musical, além de fenômenos passageiros que duravam pouco mais que uma estação, o mercado vivia dos medalhões que justificavam sua posição com trabalhos que definiram nossa MPB como uma das melhores do mundo.
Mas o tempo passa, e a garotada não se sintonizava àquela conformação que para eles já caducava. Ventos vindo da Europa prenunciavam uma mudança. De um cenário cada vez mais rude, em parte pela degradação econômica, brotou uma geração que pregava o desmonte das instituições e um mundo novo ressurgido das cinzas. Era o movimento punk, que eclodiu em várias frentes no final dos anos 1970, tendo a música como carro-chefe, e o lema “Faça você mesmo” como estilo de vida. Gerados em porões por mimeógrafos ou xerox, os fanzines invadiram as ruas cheios de ideias radicais, o movimento ganhou o mainstream, chegou à TV e às capas de revista. De tantas vertentes surgiu a new wave, com meninos e meninas usando roupas coloridas, cortes de cabelo ultrajantes, e a criatividade à flor da pele.
A onda começou a chegar aqui através de alguns grupos musicais como Blitz e Gang 90 e as Absurdettes, que exploravam o humor e as histórias em quadrinhos em suas letras. Trupes teatrais irreverentes como Asdrúbal Trouxe o Trombone (nascida nos anos 1970), que inovava com improvisação, e de onde saíram os músicos Evandro Mesquita e Cazuza. O barco começou a encher com Lobão, Marina, Paralamas do Sucesso e uma fileira de artistas que moldaram a música no Brasil dos anos 1980.
Desse time faziam parte os Titãs, uma banda paulista formada em 1982, que experimentou diversos gêneros, como new wave, punk, reggae, grunge, MPB e música eletrônica. A formação inicial contava com um número de integrantes bastante incomum. Arnaldo Antunes, Branco Mello e Ciro Pessoa eram vocalistas. Sérgio Britto, Nando Reis e Paulo Miklos, além de cantarem, se revezavam entre os teclados e o baixo. O restante do grupo era formado por André Jung, na bateria, Marcelo Fromer e Tony Belloto nas guitarras. Ciro Pessoa saiu antes do lançamento do primeiro disco, e André Jung trocou de banda com Charles Gavin, que tocava no Ira!.
Tinham visual extravagante, com direito a roupas de cores fortes, maquiagens e penteados originais. Além da Jovem Guarda, eles curtiam a vanguarda paulista, principalmente as figuras de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, além de uma proximidade com a poesia concreta de Augusto de Campos (mais presente na obra de Arnaldo Antunes).
Em 1984, assinaram com a gravadora WEA para fazer seu primeiro disco. Nele estão os sucessos Marvin e a divertida Sonífera Ilha, que lhes rendeu diversas apresentações em programas do Bolinha, Raul Gil e Chacrinha. No ano seguinte, gravaram Televisão, produzido por Lulu Santos. Tanto a faixa-título (que traz o bordão “Ô Cride, fala pra mãe!”, do comediante Ronald Golias) como a canção Insensível caíram no gosto popular. O disco encerra com Massacre, um petardo antifascista com alfinetada na Rede Globo (El Duce en Itália!; El Führer en Germânia!; Brazil, Aldeia Globale!).
Em junho de 1986, eles lançaram seu álbum mais explosivo, que teve a produção de Liminha (ex-baixista dos Mutantes). Cabeça Dinossauro tem uma sonoridade pesada e letras contundentes, critica uma ampla gama de instituições e emplacou várias faixas, principalmente Polícia, Homem Primata e Família. A música Bichos Escrotos foi proibida, mas algumas rádios arcaram com multas pela sua veiculação. O trabalho é considerado o melhor lançamento do rock brasileiro dos anos 1980 e foi incluído na lista dos 100 melhores discos da música brasileira.
Isso os estimulou a gravar Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas, que foi lançado em pleno Hollywood Rock, em 1988. A apresentação foi eleita pela crítica especializada como a melhor de todo o festival, superando Simple Minds, UB40, Pretenders, Simply Red e outros medalhões.
Eles também foram os primeiros artistas do país a se apresentarem na Noite de Rock do Festival de Jazz de Montreux. Do show, fizeram o LP Go Back, o primeiro ao vivo da carreira. Depois lançaram o premiado álbum de estúdio Õ Blésq Blom, que trouxe os hits Miséria, O Pulso e Flores, cujo clipe ganhou o prêmio MTV Video Music Awards.
Produzido em 1991, Tudo ao Mesmo Tempo Agora é puro rock, traz letras polêmicas e escatológicas, sendo o último trabalho com Arnaldo Antunes. Titanomaquia veio na sequência e teve a direção de Jack Endino, produtor das bandas Nirvana e Mudhoney. Apesar da sonoridade bem trabalhada, o disco foi criticado por colunistas especializados, que afirmavam que o grupo descambava para a “modinha grunge”.
Em 1994, Paulo Miklos e Nando Reis lançaram seus primeiros trabalhos solo; Branco Mello e Sérgio Britto formaram o Kleiderman; e Tony Belloto lançou seu primeiro livro, Bellini e a Esfinge. De volta, fizeram o álbum Domingo. Em 1997, para comemorar os 15 anos de carreira, participaram do projeto Acústico MTV, cujos CD e DVD venderam 1,7 milhão de cópias. Em 1999, saiu o disco As Dez Mais, com regravações de artistas brasileiros de diferentes estilos.
Uma tragédia os surpreendeu no dia 11 de junho de 2001, quando Marcelo Fromer foi atropelado por um motociclista e morreu dois dias depois. Apesar do choque, o grupo decidiu seguir em frente. Com o início das gravações de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana, eles convidaram Emerson Villani para substituir Fromer. Em setembro de 2002, o baixista e vocalista Nando Reis anunciou que estava deixando os Titãs para seguir carreira solo. No ano seguinte, saiu o disco Como Estão Vocês?, e, em 2005, foi lançado o MTV ao Vivo.
Em 2006, ao lado do coletivo Afroreggae, abriram o histórico show dos Rolling Stones, realizado na Praia de Copacabana, que teve uma plateia de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. Em 2007, os Titãs comemoraram seus 25 anos com uma série de shows, junto com os parceiros de estrada Paralamas do Sucesso.
Após seis anos sem um disco de estúdio, em 2009 lançaram Sacos Plásticos. Em fevereiro de 2010 foi a vez de Charles Gavin anunciar sua saída, e Mario Fabre o substituiu na bateria. Em 2012 fizeram uma turnê com Cabeça Dinossauro, além de dois shows comemorativos de 30 anos de carreira.
O álbum Nheengatu, lançado em maio de 2014, foi sucedido por uma turnê que gerou CD e DVD ao vivo. Em 2016, Paulo Miklos anunciou seu desligamento, sendo substituído pelo guitarrista Beto Lee (filho de Rita Lee). O mais recente trabalho lançado pelo grupo foi a ópera-rock Doze Flores Amarelas, em maio de 2018.Justamente quando Branco Mello foi diagnosticado com um tumor na laringe, que o deixou afastado da banda temporariamente.
Agora é só curtir a playlist especial que criamos no Spotify, clicando aqui.
teste