Toni ou Tony Tornado
Enquanto lê o post abaixo, ouça os grandes sucessos de Tony Tornado clicando aqui.
Ator e cantor brasileiro, Antônio Viana Gomes nasceu em 1930, em Mirante do Paranapanema/SP. É filho de Ray Anthony Washington Patterson Anderson, natural da Guiana, que afirmava ter mais de cem filhos espalhados por aí.
Tony Tornado começou no mundo artístico logo aos 11 anos de idade, apresentando-se em circos. Após ter fugido de casa, viveu como um menino de rua e, para sobreviver, engraxava sapatos e vendia amendoim. Aos 18 anos, morando no Rio de Janeiro, serviu o exército na Escola de Paraquedismo, onde foi apresentado a um tal Abravanel – hoje conhecido como Silvio Santos –, proprietário de uma cantina frequentada pelos recrutas.
Antes de se tornar popular, dublou cantores como o americano Chubby Checker, o “pai do twist”, e participou do grupo de dança Brasiliana, com o qual excursionou pela Europa durante cerca de três anos.
Pouco tempo depois, embarcou para Nova York, onde viveu quatro anos no Harlem entre a nata do tráfico e da prostituição. “Vendia, mas não fumava, nunca bebi nem fumei. Passei a ser respeitado porque eu falava espanhol e servia de ponte entre os negros e os chicanos quando havia alguma encrenca.” Um dia foi convocado a comparecer a uma delegacia para “livrar a cara” de um brasileiro que se encontrava em cana – assim ele conheceu Sebastião Rodrigues Maia, que, ao se tornar cantor, adotou o nome artístico Tim Maia.
Para driblar o departamento de imigração, Antônio fazia-se passar por funcionário de um lava-rápido. “Quando trabalhava como cafetão eu protegia a mulherada. A barra era pesada, porque o cliente come e não quer pagar. Até que alguém me ‘caguetou’.” A temporada americana foi boa para ele e deixou impressões fortes sobre o modo como os negros viviam em Nova York. “Lá eles se impunham, não aceitavam humilhação e passaram a cultivar o orgulho da cor.”
Deportado, em 1969 chegou ao Brasil num avião de carga e se juntou ao conjunto de Ed Lincoln. Na mesma época, se apresentava numa boate com o pseudônimo Johnny Bradfort, pois seu patrão exigia que ele se passasse por estrangeiro.
Numa noite, o cantor Serguei apareceu por lá meio afobado, dizendo que precisava que lhe quebrasse um galho. Dizia que estava com uma amiga na praia, que havia bebido muito e desmaiado. Era ninguém menos do que Janis Joplin. Tornado desconfiou de que se tratava de uma brincadeira, mas resolveu conferir. Chegando lá, constatou que era mesmo JJ. Ele, então, pegou a cantora nos braços e atravessou a Av. Nossa Senhora de Copacabana até chegar ao Porão 73, onde lhe deram um banho e a puseram para dormir. Lá pelo meio da noite ela acordou e eles a convenceram a dar uma canja no palco – segundo Tony, Janis cantou até às oito da manhã.
Só em 1970 ele adotaria o nome artístico Tony Tornado, ao ser convidado pelos compositores Tibério Gaspar e Antônio Adolfo para interpretar a canção BR-3 no V Festival Internacional da Canção, ao lado do Trio Ternura. Sua entrada gerou frisson – era um negro de quase dois metros de altura, com uma juba imensa, calçando botas de cano longo; a interpretação, por sua vez, trazia a influência do soul e do black inspirados em James Brown. Ali, as pessoas viram os primeiros passos da dança que viraria febre nos bailes funk daquela época. E o novato ganhou o festival.
Depois disso, se casou com a atriz Arlete Salles, e a sociedade reagiu de modo sórdido. “Foi um choque, era difícil a aceitação de um casal assim nos anos 1970 – uma loura com um negro –, deixavam bilhetes ofensivos no carro, entre outras coisas. Foram sete anos juntos, ela peitava tudo comigo”, conta.
No ano seguinte, no mesmo festival, durante a defesa de Black is Beautiful por Elis Regina, Tony subiu no palco e fez o gesto do punho fechado – símbolo do grupo revolucionário norte-americano Panteras Negras, que lutava por direitos civis. “Quando ela disse ‘eu quero um homem de cor’, falei: ‘sou eu, só pode ser eu’. Empolguei-me”, lembra. Mal abaixou as mãos e já estava algemado. Saiu dali preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), a despeito dos protestos da cantora e da plateia. “Lá, foi aquela coisa: ‘senta aí, negão. Canta aí, rodopia. O senhor é como se fosse uma melancia, vermelho por dentro e verde por fora’. Sabiam que eu tinha sido militar, daí esse papo, por fora a farda, por dentro comunista”, relembra.
Gravou dois discos – o álbum Toni Tornado, de 1971, e o segundo, com o mesmo nome, em 1972. As músicas que ficaram na memória de quem viveu a época foram BR-3 e Podes Crer, Amizade (que virou bordão popular). Além de outras composições de afirmação como Me Libertei, Juízo final e Se Jesus Fosse um Homem de Cor (de Cláudio Fontana) – esta foi censurada e o cantor, exilado.
Nos anos 1960, Jorge Ben, Wilson Simonal e Roberto Carlos gravaram composições com influência da soul music. Já nos anos 1970, Tim Maia e Cassiano deram sequência, influenciando outros artistas como Hildon, Paulo Diniz, Carlos Dafé, Banda Black Rio e Gerson King Combo – que encarnou de vez o estilo black power.
Tony Tornado começou a fazer novelas quando foi contratado pela TV Tupi, em 1972, para interpretar João Corisco em Jerônimo, o Herói do Sertão. Está na Rede Globo há 40 anos, onde assumiu papéis secundários em novelas e em programas humorísticos como Os Trapalhões. Seus maiores sucessos vieram na década de 1980, como Rodésio, o capataz da viúva Porcina em Roque Santeiro (1985), e dando vida a um capitão do mato em Sinhá Moça (1986). Ainda atuou como Gregório Fortunato, o segurança pessoal do presidente Getúlio Vargas, na minissérie Agosto (1993) e nos filmes Pixote (1980), do diretor Hector Babenco, e Quilombo (1984), de Cacá Diegues.
Em 1996, foi convidado para participar do CD do grupo Jota Quest, em 2015 se apresentou no Rock In Rio e, hoje, o filho Lincoln Tornado (cantor e ator) o acompanha nos shows Brasil afora. Podes crer, amizade!
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