Vinil: Cat Stevens
Steven Demetre Georgiou nasceu em 1948. Apesar do nome, ele é londrino, filho de pai grego e mãe sueca. No caldeirão efervescente de grandes talentos da virada dos anos 1960 para os 1970, Cat Stevens era um dos gênios, com sua voz inconfundível e uma boa pegada de violão, interpretando canções de sonoridade folk/rock.
Em 1965, quando atuava sob o nome Steve Adams, gravou I Love My Dog pela Decca Records. Em 1967, como Cat Stevens, lançou com êxito Matthew and Son. Quando fez seu segundo álbum, New Masters, contraiu tuberculose e ficou um ano afastado, depois mudou-se para a gravadora Island Records onde lançou o single de sucesso Lady D’Arbanville.
A notoriedade surgiu com o belo Tea For The Tillerman (1970). O disco seguinte, Teaser And the Firecat, foi inspirado num conto infantil e inclui clássicos como Morning Has Broken, Peace Train e Moon Shadow. Ao longo dos anos 1970, Cat Stevens seria uma das maiores estrelas de uma espécie de folk britânico meio místico, meio pop e capaz de atrair grandes multidões.
Os dois álbuns seguintes, Catch Bull At Four (1972) e Foreigner (1973) – que foi inspiração para Coldplay em Viva La Vida – mostraram um trabalho mais reflexivo. Depois vieram Buddah And The Chocolate Box, Numbers e Izitso, este último tornou-se disco de ouro em apenas um mês.
Para decepção de seu público, Stevens se converteu à religião islâmica, adotando o nome Yusuf Islam, após ter uma epifania quando quase se afogava na praia de Malibu. Nessa época, ser muçulmano era visto como algo estranho para um ocidental, mas não havia toda essa aura de espanto pós Bin Laden. Além disso, era comum ver ícones pop flertando com religiões exóticas para os ocidentais como budismo e hinduísmo.
O compositor passou a tomar cuidado quanto ao uso de suas músicas, pois muitas delas dissertam a respeito de sua vida anterior à conversão, e ele não queria mais ser associado a elas. Por isso, nunca permitiu que qualquer de suas canções fosse usada em comerciais de TV.
Yusuf criou seu próprio selo fonográfico, a Ya Records, pelo qual produziu dez discos de música religiosa e espiritual. Fundou três escolas em Londres e uma organização sem fins lucrativos, Small Kindness, reconhecida pela ONU e cujo objetivo era a ajuda a órfãos de conflitos como Bósnia, Kosovo e Iraque.
Em 1989, sua música foi alvo de boicote nas rádios americanas, por ele ter apoiado a condenação à morte de Salman Rushdie pelos seus Versos Satânicos, sob acusação de blasfêmia contra o profeta Maomé – sentença promulgada pelo aiatolá Khomeini, então líder religioso do Irã. Ainda assim, no ano seguinte, a compilação The Very Best of Cat Stevens atingiu o n.º 5 do top britânico.
Em 2004, o Departamento de Segurança dos Estados Unidos impediu sua entrada no país, após incluí-lo na lista de vigilância por atividades relacionadas ao terrorismo, problema que foi resolvido após alguns incidentes diplomáticos com a Inglaterra. Nesse mesmo ano, recebeu o prêmio Man Of Peace dado àqueles que se dedicam a promover a paz e a reconciliação entre os povos.
Em março de 2005, lançou o álbum Indian Ocean, sobre o tsunami de 2004 que atingiu vários países, com renda destinada aos órfãos da Indonésia. Em 2006, anunciou a sua volta à música pop, com o disco An Other Cup, coincidindo com o 40º aniversário de lançamento do seu primeiro single e, em 2009, produziu o álbum Roadsinger.
A diferença entre o antigo trabalho e o novo, é que em vez de temas sobre a procura do sentido da vida, a religião parece trazer conforto a quem canta a paz e as coisas simples como um passeio pelo parque ou uma xícara de chá. Seus shows ao redor do mundo não procuram evitar a nostalgia, e sua banda consegue não só recriar arranjos originais como atualizá-los sem que isso resulte num modernismo vazio.
Brasil
Na primeira viagem que Cat Stevens fez ao Brasil, em fevereiro de 1974, ficou fascinado pelo Rio. No ano seguinte, alugou uma casa da atriz Odete Lara, e depois comprou uma cobertura que serviu como refúgio por cerca de três anos nos intervalos das turnês.
Ele retornou em novembro de 2013, quando fez apresentações desprovidas de glamour ou estrelismo, conversando com a plateia e interrompendo músicas para admitir ter esquecido a letra. Sua obra desafia o tempo e parte de seu público tem idade próxima aos meninos da banda que o acompanha nos shows e, apesar de estar há 40 anos afastado da indústria musical, seus trabalhos continuam rendendo uma boa cifra anual.
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– Nota: Yusuf é uma das transliterações arábicas para José; o cantor escolheu este nome por influência do profeta José do Egito, que não era o pai de Jesus. Curiosamente Maria tem menos citações na Bíblia que no Alcorão, onde Jesus é filho de Alá e tem aura divina; diferente do profeta Maomé, um pecador que atendeu a um chamado de Deus.
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