Vinil : LÔ BORGES

Salomão Borges Filho, o Lô, nasceu em Belo Horizonte, no dia 10 de janeiro de 1952. É de uma família de 11 irmãos (seis homens e cinco mulheres), em que a maioria se dedicou à música.

 

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Foi um dos fundadores do Clube da Esquina – grupo informal que marcou presença na música popular nas décadas de 1970 e 1980 –, ao lado de Márcio Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso, Toninho Horta, Tavinho Moura, Flávio Venturini e Túlio Mourão, entre outros.

Sua casa era frequentada por amigos de seus irmãos que faziam música e o influenciaram com um repertório de bossa nova, MPB e composições próprias.

Lô Borges conheceu Beto Guedes quando este dava um rolê de patinete em sua rua. A amizade surgiu instantaneamente. O encontro com Milton Nascimento (Bituca) se deu na escadaria do prédio em que Lô morava, quando tinha 10 anos. Num dia, ao sair para comprar leite, dispensou o elevador para ir deslizando pelo corrimão e, na medida em que descia, o som de um violão acompanhado de falsetes se aproximava. Era Milton que tocava. Viu, então, que se tratava de um amigo de seus irmãos e logo começaram um bate-papo.

 

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Aos 14 anos, teve seu primeiro contato com o rock através do filme Os Reis do Iê Iê Iê (A Hard Days Night), dos Beatles, que assistiu dezenas de vezes no Cine Acaiaca. Ficou impressionado com as canções e o carisma do grupo e com as pessoas correndo atrás deles como se fossem deuses. Ele e Beto montaram uma banda com o seu irmão Yé e o amigo Márcio Aquino – The Beavers, que tocava Beatles em programas de auditório e fazia o maior sucesso.

Sua cabeça fez um mix total do que acontecia musicalmente na época – um pouco de João Gilberto e Tom Jobim, Beatles e os festivais da canção, em que ele viu Milton, Caetano, Gil, Mutantes, Edu Lobo, Elis Regina, Chico Buarque… Porém, foi a Jovem Guarda, de Roberto Carlos e amigos, que o encorajou a inventar coisas no violão e no piano. Fazia as músicas, mas não mostrava para ninguém, até que Milton notou que ele tinha jeito para a coisa e acabou gravando suas primeiras composições.

Em 1972, Bituca o convidou pra fazer o álbum Clube da Esquina. A princípio, Lô pensou se tratar apenas de uma gravação a mais. Ao saber que o disco seria meio-a-meio, ele teve que se mudar para o Rio de Janeiro, onde passou a conviver com músicos talentosos, acostumados a tocar jazz, bossa nova e samba. Sentindo-se um peixe fora d’água, impôs a condição de levar também Beto Guedes, que era seu parceiro musical.

O disco resultou de uma criação coletiva, em que todos tocaram quase todos os instrumentos – quem chegava primeiro escolhia o seu. Por isso, ele tem uma sonoridade única e é, até hoje, objeto de desejo de músicos mundo afora e entrou para o livro 1001 Álbuns que Você Deve Ouvir Antes de Morrer – o Clube é um dos poucos brasileiros que está lá.

O guitarrista norte-americano Pat Metheny, um dos artistas influenciados pelo álbum, desembarcou em Belo Horizonte só para conhecer alguns dos músicos. O vocalista do Yes, Jon Anderson, esteve no casamento de Lô Borges e Andy Summers, guitarrista da banda The Police, deu as caras por aqui também – anos depois, ele formaria o power trio Call The Police, ao lado de Rodrigo Santos (baixista do Barão Vermelho) e João Barone (baterista do Paralamas do Sucesso), que se apresentou em Belo Horizonte neste mês de abril.

Com o sucesso do Clube, a gravadora Odeon convidou Lô para fazer um disco solo no mesmo ano. Ele aceitou com certo receio, pois não tinha repertório para gravar. Passou, então, a compor na parte da manhã, enquanto o irmão Márcio fazia as letras à tarde. À noite, Lô ia para o estúdio arranjar o álbum com os músicos convidados a tomar parte no trabalho. O disco resultou meio caótico, com canções que variavam de 40 segundos a três minutos. O hoje conhecido como “o disco do tênis” não fez sucesso, mas se tornou um registro histórico.

Somente sete anos depois Lô faria Via Láctea. Ele havia “fugido para a Bahia”, para se estruturar, aprimorar suas composições e aprender a lidar com o show business. A produção do álbum foi capitaneada por Milton Nascimento e demandou maior tempo. Clube da Esquina 2 era um projeto do Milton, que convidou várias pessoas a participar – Lô fez duas canções e tocou em algumas músicas de Beto Guedes.

Já o álbum Os Borges foi feito praticamente pelos seus irmãos Marilton, Márcio, Telo, Nico e Solange, pois Lô estava em turnê e contribuiu apenas em algumas faixas. Foi nessa época que ele conheceu Elis Regina, que estava no estúdio ao lado do seu gravando a música Trem Azul (do próprio Lô). Os dois “trombaram” no corredor e foi ela quem se apresentou: – Prazer, eu sou a Cláudia (nome de uma importante cantora dos anos 1970 que tinha Elis como referência). Ele ficou meio abobado e ela o convidou para assistir a gravação. E essa foi a única vez em que se encontraram.

Na década de 1980, Lô lançou os LPs Nuvem Cigana, Sonho Real e Solo. Em 1996, gravou o CD Meu Filme, contendo parcerias inéditas com Caetano Veloso e Chico Amaral. Em 2001, lançou Feira Moderna, um álbum só de sucessos e parcerias com os irmãos e amigos.

Em 2003, saiu o CD Um Dia e Meio, com a participação de Samuel Rosa, seu parceiro em várias canções, como Dois Rios. Seu 11º álbum, BHanda, foi finalizado em Nova York, em 2007. Horizonte Vertical, com participações de Samuel Rosa, Bituca e Fernanda Takai foi lançado em 2011.

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E o que muitos queriam aconteceu em 2017: o “show de lançamento” de seu primeiro álbum solo, 45 anos depois – o famoso disco do tênis, item de coleção. Os ingressos se esgotaram em todas as apresentações, onde a banda de Lô executou o álbum na íntegra e com os arranjos originais.

 





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