Vinil: Luiz Melodia
O músico Luiz Carlos dos Santos (7/1/1951 – 4/8/2017), único filho homem de Eurídice e Oswaldo Melodia, nasceu no bairro carioca do Estácio e passou infância e adolescência no morro de São Carlos. Foi “mordido” pelo vírus da música ao ver o pai tocando, e este sonhava vê-lo um doutor formado.
Começou sua carreira em 1963 com o cantor Mizinho, ao mesmo tempo em que trabalhava como tipógrafo, vendedor, caixeiro e músico em bares noturnos. Em 1964 formou o conjunto Os Instantâneos, com Manoel, Nazareno e Mizinho, que cometeram uma verdadeira heresia tocando Jovem Guarda no território do samba. Essa experiência, juntamente com a atmosfera da tradicional música dos morros cariocas, resultaram em uma mescla de influências que lhe renderam um estilo único. Logo, acabou por chamar atenção de um assíduo frequentador do morro do Estácio, o poeta Wally Salomão e de Torquato Neto.
Através de Wally, Gal Costa acabou conhecendo um de seus compositores prediletos, resultando na gravação de Pérola Negra no disco Gal a Todo Vapor, de 1972. Pouco depois era vez de Estácio, Holly Estácio ganhar a interpretação na voz de Maria Bethânia. Foi nessa época que o artista assumiu o nome de Luiz Melodia – apropriando o sobrenome artístico de seu pai –, e lançou no ano seguinte seu primeiro e antológico disco Pérola Negra. Nele estão as composições Magrelinha, Estácio, Holly Estácio, Vale Quanto Pesa e Farrapo Humano.
Seu estilo musical inovador que misturava samba, choro, rock, blues e soul provocou uma reação na crítica musical que o colocou no rol dos artistas “malditos”, fazendo companhia a Sérgio Sampaio, Walter Franco, Jorge Mautner e Jards Macalé, principalmente. Acreditando no que fazia, Melodia rompeu barreiras em relação às gravadoras, não aceitando interferências que desviassem o rumo do seu trabalho. Pagou por isso, foi deixado na “geladeira” por ser considerado um sujeito difícil.
O próprio Melodia desenhava suas roupas e dava para dona Eurídice confeccionar. Usar calças bocas-de-sino e blusas cheias de “gueriguéri” era uma maneira de se afirmar. No princípio dos anos 1970, algumas celebridades de pele negra faziam questão de encarar o preconceito e mostrar que eles também eram bonitos e estilosos, como o jogador de futebol Paulo César Caju e o cantor Tony Tornado. Isso influenciou muita gente.
Em 1975, Melodia foi finalista do Festival Abertura, da TV Globo, com a música Ébano. Em 1976, sua música Juventude Transviada foi incluída na trilha sonora da novela Pecado Capital (Globo) e gravada no seu LP Maravilhas Contemporâneas. Participou do Projeto Pixinguinha, dividindo o palco com Zezé Motta e, no ano de 1978, gravou o álbum Mico de Circo.
Na década de 1980 lançou os LPs Nós (1980) – que contou com a participação de sua companheira Jane –, Felino (1983), Claro (1985). Em 1986, Melodia é descoberto pelo público internacional, graças às suas apresentações no festival de jazz de Chateauvallon, na França, onde entusiasmou platéias. Ficou muito tempo sem gravar e, em 1991, a fase de “hibernação” terminou com o lançamento de Pintando o Sete, que foi considerado antológico pela crítica. O disco traz um de seus maiores sucessos, Codinome Beija-flor, composição de Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias.
Em 1995, mostrou uma releitura de sua obra com Relíquias, onde novos arranjos para velhas músicas mostram a riqueza de possibilidades de seu trabalho. Em 1997, saiu Decisão e 14 Quilates, trabalhos que trazem um compositor mais amadurecido, sem perder a criatividade do início da carreira. Por essas e outras é que ele teve suas composições gravadas por intérpretes de estilos tão díspares como Gal Costa, Maria Bethânia, Cidade Negra, Barão Vermelho, Skank, Ângela Maria, Dora Vergueiro, Itamar Assumpção…
Participou do disco-homenagem Balaio do Sampaio, no qual interpretou a faixa Cruel (Sérgio Sampaio). Em 1999, lançou Luiz Melodia: Acústico, ao Vivo, onde interpretou também músicas de outros compositores.
Em 2001, lançou o álbum Retrato do Artista Quando Coisa. O disco, produzido pelo guitarrista Perinho Santana, com arranjos sofisticados de sopros e cordas, contou com a participação de Ricardo Silveira (guitarra) e Luiz Alves (baixo acústico). Lançou no ano de 2002 o CD e o DVD Luiz Melodia Convida – Ao vivo, com a participação de Zeca Pagodinho, Zezé Motta e Luciana Mello, entre outros artistas. Em 2004, apresentou-se do Festival de Jazz de Montreux.
Em 2011 participou do quarto disco solo do titã Sérgio Britto, e dois anos depois foi lançada a caixa Três Tons de Luiz Melodia, contendo álbuns gravados pelo cantor em três décadas diferentes.
No ano de 2014 lançou em show no Teatro Rival BR, no Rio de Janeiro, o CD Zerima, seu 14º disco solo. Depois de 13 anos sem um disco de inéditas, Melodia gravou samba (e outras bossas) cheios de classe e suingue. Com esse trabalho ganhou, em 2015, o Prêmio Música Popular Brasileira nas categorias MPB, Canção Popular e Melhor Cantor.
Luiz Melodia, faleceu na madrugada do dia 4 de agosto de 2017, no Rio de Janeiro, aos 66 anos, em decorrência de complicações de um câncer que atacou a medula óssea. Foi casado com a cantora, compositora e produtora Jane Reis desde 1977, e era pai do rapper Mahal Reis.
O cantor será homenageado pela escola de samba Estácio de Sá no carnaval de 2018, e há a possibilidade de ser o tema do enredo em 2019. A gravação ao vivo do show Zerima, feita em 2016 em Poços de Caldas, Minas Gerais, vai gerar o primeiro DVD póstumo da carreira do artista.
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