Vinil: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band

Beatles (EMI)

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band não é o melhor disco dos Beatles, mas é frequentemente citado como o mais influente álbum da história do rock. Foi lançado em junho de 1967, na Inglaterra e nos Estados Unidos, sendo considerado inovador desde sua técnica de gravação até a elaboração da capa.

Os Beatles estavam cansados das turnês, pois passaram quase quatro anos ininterruptos na estrada – entre aeroportos, hotéis, entrevistas e milhões de decibéis dos gritos das fãs, o que os impedia de ouvir o que estavam tocando. Por isso, conscientes de que a falta de tempo para compor comprometia seu desenvolvimento criativo e técnico, resolveram se tornar uma banda de estúdio e não mais excursionar. A imprensa chegou a decretar o fim do grupo, pois eles “não sobreviveriam sem a beatlemania”; ainda especulavam que eles estavam passando os dias dormindo.

 

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No decorrer dos anos, os “meninos” vinham se interessando por outros veios musicais como também estavam se familiarizando com novos instrumentos. Mergulharam em trabalhos eruditos dos compositores John Cage e Stockhausen e conviviam com a vanguarda do rock como Bob Dylan, Brian Wilson (Beach Boys) e os novatos Frank Zappa, Velvet Underground, Jimi Hendrix e Pink Floyd, principalmente.

Em 1966, os Beach Boys lançaram Pet Sounds, um álbum com experimentalismo e sofisticação que ainda não havia sido feito; contudo, eles haviam se inspirado em trabalhos anteriores dos Beatles (Rubber Soul e Revolver). Era uma rivalidade muito produtiva. Após ouvir Pet Sounds, Paul McCartney teve a ideia de fazer um álbum conceitual, em que os temas estariam interligados.

 

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John Lennon passava por um período isolado com a família em um condomínio, alheio ao que acontecia no epicentro de Londres. E imaginava como Paul estava aproveitando a “swinging London”, o principal templo da moda e da badalação, com Mary Quant desenhando minissaias, e Twiggy, a primeira supermodelo mundial, estampada em todas as capas de revista. Foi o próprio John que desmentiu a história de “obra conceitual”, dizendo que o disco não passava de um amontoado de canções bem trabalhadas. Inclusive, a música que abriria o álbum – a sua Strawberry Fields Forever – ficou de fora, pois a gravadora precisou lançá-la como single ao lado de Penny Lane (de Paul).

Nas treze canções de Sgt. Pepper’s, eles levaram ao limite o conceito de rock, agregando orquestrações, instrumentos hindus, gravações tocadas ao revés e sons de animais. No entanto, eles dispunham de gravadores de apenas quatro canais para processar uma imensa quantidade de informações. Muitos créditos ao engenheiro de som George Emerick e a George Martin, o maestro que moldou o som de quatro criativos caipiras de Liverpool.

Muita gente se lembra onde estava e o que fazia quando ouviu Lucy in the Sky With Diamonds pela primeira vez, e Jimi Hendrix abriu um show tocando a música Sgt. Pepper’s para um auditório lotado de celebridades do rock, apenas dois dias depois do lançamento do LP.

 

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Considerada a pérola do disco, A Day in the Life é uma verdadeira construção a quatro mãos, com Lennon criando uma parte, intercalada com outra de McCartney como uma visão paralela. Sob protestos da gravadora EMI, ela foi banida da rádio BBC por suposta apologia às drogas, por causa da frase “Eu adoraria deixar você ligado”. George Harrison participou com a radical Within You Without You, resultado de sua incursão pela cultura indiana, quando aprendeu a tocar sitar e mergulhou na meditação. Isso mudou o som dos Beatles, que foi ao encontro da psicodelia hippie que acontecia em San Francisco, EUA.

A capa de Sgt. Pepper’s também tem ares de obra de arte; com uma fotografia produzida por Michael Cooper, com os quatro Beatles vestidos como músicos de banda marcial, diante de uma montagem feita por Peter Blake e a brilhante Jann Haworth. Estão lá rostos de figuras célebres, entre as quais Marilyn Monroe, Marlon Brando, Bob Dylan, Muhammad Ali (Cassius Clay), Karl Marx, Edgar Alan Poe, Carl Jung, Oscar Wilde e Johnny Weismuller (Tarzan). Cogitaram colocar também imagens de Gandhi, Hitler e Jesus Cristo, mas imagina o tamanho do problema que não ia dar…

O ator mexicano Germán Valdés (irmão de Ramón Valdés, o Seu Madruga do Chaves) apareceria na capa, mas ele não autorizou, enviando em seu lugar uma árvore da vida de Metepec, que está no lado direito. Logo abaixo, uma boneca trajando uma blusa com a frase “Welcome the Rolling Stones”. Fechando o pacote, Sgt. Pepper’s foi o primeiro álbum a sair com as letras das canções impressas.

 

Brasil

O maior disk-jockey do Brasil atuou nas décadas de 1960 e 1970 e era conhecido como Big Boy, um maluco gordo, cabeludo e engraçado, que estava por dentro de tudo o que acontecia no mundo da música. No dia 1º de junho de 1967, data do lançamento de Sgt. Pepper’s, ele tocou o álbum na íntegra na rádio Mundial (do Rio); certamente um dos únicos no planeta. Ele se encontrou com Paul McCartney em Londres, que o colocou na lista dos DJs que receberiam em primeira mão as novidades dos Beatles.

Influenciando meio mundo, o disco também ajudou a eclodir o movimento mais transgressor da música brasileira: a Tropicália.





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