Wanderléa

Enquanto lê o post abaixo, ouça os grandes sucessos de Wanderléa clicando aqui.

Wanderléa Charlup Boere Salim nasceu em Governador Valadares/MG, em 5 de junho de 1946. É uma cantora cuja trajetória marcou época, impôs novos estilos e contribuiu para uma mudança comportamental significativa nas décadas de 1960 e 1970.

Descendente de libaneses, Wanderléa passou a infância em Lavras/MG e depois mudou-se aos nove anos para o Rio de Janeiro com a família. Aos dez anos ganhava concursos em rádios, aos 15, cantava em boates com autorização do juizado de menores. Seu pai não aceitava a carreira da filha, mas acabou cedendo porque ela era insistente, tinha talento, além de entregar toda a renda para a família.

Pós-Celly e pré-Rita Lee, Wanderléa foi uma das mulheres que furou o esquema do universo masculino do “rock” no Brasil, embora Celly Campello – a musa dos 1950 – tenha abandonado a carreira por causa do casamento.

“Wandeca” gravou seu primeiro compacto em 1962, pela CBS. No ano seguinte, saiu o LP Wanderléa, quando conheceu Roberto Carlos, com quem namorou por algum tempo. Tornou-se amiga de Erasmo Carlos, e o trio foi convidado para apresentar, em 1965, o programa Jovem Guarda pela TV Record de São Paulo. Substituindo as partidas de futebol, era transmitido nas tarde de domingo e teve uma das maiores audiências da época, lançando vários artistas adolescentes.

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Com Roberto e Erasmo, influenciou meio mundo, ditou o jeito de se vestir, de falar e de se comportar. Havia uma disputa no grupo, de quem chegava primeiro com as novidades e quem tinha o carro mais incrementado; se Roberto comprava um Cadillac, ela aparecia com um Mustang, e assim por diante.

Seu comportamento foi um referencial para a nova mulher de atitude, e seus figurinos eram copiados pelas meninas mais avançadas: mini-saias, botas, pernas e umbigo de fora. Isso não era bem aceito na época e ela costumava enfrentar situações desgradáveis, pois quando caminhava pela rua algumas pessoas cuspiam onde ela pisava. Isso, quando ela conseguia sair sem ser atacada por fãs histéricas(os) querendo arrancar-lhe um pedaço para levar de recordação.

Wandeca, também chamada de Ternurinha, tinha suas concorrentes nas paradas e nos corações dos fãs, começando por sua rival loura Rosemary, além de Martinha, Lílian, Silvinha, Vanusa e Waldirene, entre tantas. Nessa fase ela emplacou vários sucessos: Ternura, Foi Assim, Pare o Casamento, Te Amo, Eu Já Nem Sei, É o Tempo do Amor, Boa Noite Meu Bem, Finalmente Encontrei Você

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Virou febre na época filmes com os artistas mais famosos, e ela estrelou Juventude e Ternura (1968), dirigido de Aurélio Teixeira, bem como contracenou com Roberto e Erasmo em Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa (1969) de Roberto Farias – que encerra com a música É Preciso Saber Viver, sucesso com os Titãs.

A música jovem, inspirada no que havia de novo lá fora, era muito criticada pela ala tradicionalista da MPB, que chegou a fazer uma passeata contra a guitarra elétrica; e a imprensa os colocava na parede comparando-os sempre com o último fenômeno brasileiro: a Bossa Nova. Tentando manter distância desses problemas, Wanderléa lançou um álbum em 1967 recheado de rocks – Prova de Fogo e Horóscopo bombaram nas rádios.

Com o fim da Jovem Guarda, seus integrantes tiveram de se adaptar às mudanças que ocorriam no mundo e ao amadurecimento de seu público. Alguns da ala romântica acabaram direcionando seu trabalho para o que passou a se denominar de brega – raiz do neo sertanejo –, criando uma nova leva de artistas; e um grupo mais descolado adotou influências de artistas da vanguarda da MPB. Wanderléa transitou por todas as vertentes, gravou compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Mautner, depois, Luiz Melodia, Raul Seixas, Gonzaguinha, Djavan e Zé Ramalho. Ainda fez o antológico disco Vamos que Eu Já Vou com Egberto Gismonti, músico respeitado aqui e no exterior.

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A vida pessoal de Wanderléa é marcada por várias tragédias familiares: viveu com Zé Renato – filho do apresentador Chacrinha – por sete anos, que sofreu um acidente e ficou paraplégico; apesar do amor entre os dois, ele terminou o relacionamento alegando que não queria ser um peso em sua vida. Então, ela se casou com o guitarrista chileno Lalo Califórnia, com quem teve o filho Leonardo, que morreu afogado em 1984, levando-a à depressão. Perdeu sua irmã (quando jovem), vítima de uma bala perdida, e seu irmão que contraiu Aids (em 1996). Ficou tão abalada que teve um câncer no útero.

Recentemente, foi lançado um box com seis CDs contendo toda sua obra dos anos 1970. Em 2013, o Canal Brasil registrou em DVD e CD o show Wanderléa Maravilhosa – réplica de seu álbum de 1972 – no palco do Theatro Municipal de São Paulo.

A artista tem se apresentado por todo o país com um repertório que transita pelas várias fases de sua carreira, além de mostrar seu lado mais versátil no seu último CD Nova Estação. Trabalho que lhe rendeu o prêmio APCA e duas indicações para o Prêmio Nacional de Música Brasileira, também concorreu ao Grammy Latino na categoria melhor álbum de MPB.



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