Wilson Simonal

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Wilson Simonal de Castro – nascido no Rio de Janeiro, em 23 de fevereiro de 1938 – foi um dos cantores brasileiros de maior sucesso nas décadas de 1960 e 1970, quando comandou e participou de três programas musicais na TV.

Filho de mineiros que migraram para o Rio de Janeiro, ele estudou em colégio católico, onde teve aulas de canto orfeônico. Em 1961, foi descoberto pelo produtor e compositor Carlos Imperial, quando deu início à sua carreira profissional, lançando seu primeiro LP, Wilson Simonal Tem Algo Mais, dois anos depois.

Casou-se com Tereza Pugliesi, com quem teve Wilson Simonal Pugliesi de Castro (Simoninha). Nessa época, saiu seu segundo álbum, A Nova Dimensão do Samba, trabalho que lhe deu fama de melhor cantor de bossa nova graças à reclusão do pioneiro João Gilberto.

A TV Tupi o convidou para produzir o programa Spotlight com o intuito de apresentar músicas de modo mais sofisticado e com arranjos mais próximos ao jazz. Em 1966, mudou-se para a TV Record, participando do programa Jovem Guarda, quando gravou o compacto Mamãe Passou Açúcar em Mim para a trilha sonora do primeiro filme de Renato Aragão (Na Onda do Iê-iê-iê).

VINIL DA SEMANA

Simonal tinha um controle incomum sobre o público, costumava dividir suas plateias fazendo-as cantar em duas ou quatro vozes, definindo o tempo e o tom para cada uma. Bolou um novo som com César Camargo Mariano – pai da cantora Maria Rita –, denominado “Pilantragem”, uma mistura de samba, iê-iê-iê e soul.

Já realizado financeiramente, passou a colecionar carros, morava em um apartamento de cobertura em Ipanema e gostava de desfilar com garotas loiras. Sobre isso, certa vez, um repórter o questionou: “Simonal, andam dizendo por aí que depois da fama você ficou ‘mascarado’” (indivíduo que gosta de “tirar onda”). Ao que ele retrucou: “Eu sempre fui mascarado!”

Escreveu uma música com o compositor e produtor Ronaldo Bôscoli (primeiro marido de Elis Regina), onde se assumia negro e fazia uma reflexão sobre Martin Luther King Jr. – pastor norte-americano, ícone na luta pelos direitos civis. Sobre ela, dizia esperar um futuro em que seus filhos não tivessem que passar pelo que ele passou devido à cor de sua pele. A música ficou retida na censura por vários meses.

No final de 1968, fez uma pequena turnê pela França, apresentando-se no Olympia de Paris, e na TV. No ano seguinte, saiu o terceiro LP de uma série, chamado Alegria, Alegria!, com destaque para Mustang Cor de Sangue, dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle. Lançou o que viria a ser o seu maior sucesso comercial, País Tropical (de Jorge Ben), e criou mais um novo jeito de cantar suprimindo a última sílaba das palavras – e “país tropical” virou “patropi”.

Amigo de Pelé, acompanhou a Seleção Brasileira na Copa do Mundo no México, em 1970; participava de bate-bola com os jogadores e se achava um verdadeiro craque. Até que, certa tarde, o elenco decidiu pregar nele uma peça, dizendo que Zagalo pensava em escalá-lo na ponta direita, em razão de uma suposta contusão do titular Jairzinho. Ele ficou todo cheio de si, convencido de que eles falavam a verdade.

vinil da semana

O cantor tinha um contrato com a Shell, que previa shows em rede nacional de alta qualidade. Assim recebeu Sarah Vaughan para um concerto, que teve a participação da banda Som 3, da orquestra da TV Tupi – regida pelo maestro Erlon Chaves –, além do conjunto que acompanhava a intérprete. Em duas canções, Oh Happy Days e The Shadow of Your Smile, Simonal dialoga com a rainha do jazz, com direito a improvisações e brincadeiras.

Junto com alguns amigos criou a Simonal Produções Artísticas, que veio a constatar um grande rombo em seu caixa. O contador Raphael Viviani responsabilizou a quantidade de gastos pessoais do cantor e o hábito dos amigos de realizarem saques diretamente da conta da empresa pela situação.

Com isso, o artista perdeu seu apartamento, seu escritório, seus funcionários, sua banda, além de responder a processos abertos por pessoas que ele acreditava terem-no prejudicado. Recorreu, então, a dois agentes do DOPS (órgão de repressão do regime militar), alegando que vinha recebendo ameaças anônimas e que acreditava partirem de Viviani. Os policiais torturaram o contador, que processou Simonal juntamente com os agentes. O cantor passou nove dias na prisão, além de ser condenado a uma pena de cinco anos e quatro meses – cumprida em regime aberto.

Todo o episódio desencadeou uma implacável campanha de difamação, que o acusava de “dedo duro”, por sua suposta atividade de informante da ditadura. Ele foi condenado ao ostracismo pelo resto de sua vida e qualquer músico que o acompanhasse era posto numa espécie de “lista negra”, correndo o risco de não conseguir mais trabalho.

VINIL DA SEMANA

Mesmo assim, Wilson Simonal ainda fez Jóia, Jóia, em 1971, e gravou Se Dependesse de Mim, produzido por Nelson Motta. Lançaria mais quatro discos nos anos seguintes (com produção independente), mas, na década de 1980, não conseguiu mais gravar. Em paralelo, toda a sua obra foi retirada de catálogo.

Deprimido, o cantor tornou-se alcoólatra e perdeu sua capacidade vocal, vindo a se recuperar graças a um novo casamento, com Sandra Cerqueira, em 1994. Nessa época, obteve documentos junto ao governo que declaravam que nada fora encontrado sobre sua associação com os denominados órgãos de repressão. Se em 1971 fosse provado que Simonal era um “colaborador”, ele não seria julgado, mas condecorado – lembrando que a grande maioria da imprensa apoiava o regime ou tirava proveito disso.

Em março de 2000, foi internado no Hospital Sírio-Libanês, e faleceu em 25 de junho, vítima de uma cirrose hepática. Em 2009, foi lançado o documentário Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, dirigido por Claudio Manoel (da trupe Casseta & Planeta), Micael Langer e Calvito Leal, que resgata a trajetória do cantor.

Além de Wilson Simoninha, Simonal teve uma filha, Patrícia, e outro filho que também se tornou músico, Max de Castro. O cantor ia aos shows dos meninos escondido, evitando ser visto para não prejudicar suas carreiras. Em 2012, foi eleito o quarto melhor cantor brasileiro de todos os tempos pela revista Rolling Stone Brasil.





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